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Ritmo de Maturação

“Com o período de inscrições da rede estadual de ensino se aproximando, a Secretaria de Estado de Educação (SED) divulgou hoje (12) uma nota de esclarecimento informando que mesmo com a resolução nº 06 do Conselho Nacional de Educação estipulando a idade de 6 anos até 31 de março do ano letivo para realização da matrícula, em Mato Grosso do Sul continua valendo a liminar que garante crianças com 5 anos no ensino fundamental. (…)

“Se os pais verificarem que o seu filho tem condições, mesmo com cinco anos de idade a serem completados até 31 de dezembro do ano letivo em curso, poderão matricular esta criança no 1º ano do ensino fundamental com base na liminar” assegura Nilene Badeca.(…)

A decisão judicial vale para as redes municipal, estadual e particular de ensino de Mato Grosso do Sul. De acordo com a secretaria Municipal de Educação de Campo Grande, Maria Cecília Amendola da Motta, as salas de 1º ano do ensino fundamental com crianças de 5 anos tiveram que se adaptar. “Com a liminar valendo desde 2007, as escolas tiveram que se adaptar para atender crianças com cinco anos de idade no 1º ano do ensino fundamental, para amenizar as dificuldades e as diferenças de idade em sala de aula” afirmou Cecília Amendola.”

Frente à esta equivocada decisão, gostaríamos de selecionar alguns trechos do capítulo “Ritmo de maturação” do livro Professor e Psicologia aplicada na escola.

“… lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito e eu estava com pressa. Irritado, curvei-me e comecei a esquentá-lo com o meu hálito. Eu o esquentava impacientemente e o milagre começou a acontecer diante de mim a um ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu, a borboleta saiu se arrastando e nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas e com todo o seu corpinho que tremia ela se esforçava para desdobrá-las.

         Curvando por cima eu a ajudava com meu hálito. Em vão. Era necessária uma paciente maturação e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol, agora era tarde demais. Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar toda amarrotada antes do tempo. Ela se agitou desesperada, e em alguns segundos depois morreu na palma da minha mão.

         Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência. Pois hoje entendo bem isso, é um pecado mortal forçar as grandes leis.

         Não temos que nos apressar, ou ficar impacientes, mas seguir com confiança o ritmo eterno”. (Texto extraído do livro “Zorba” de Nikos Kasantzanki).

            A partir do texto de Kasantzanki, pode-se fazer uma analogia com o que ocorre com algumas crianças nas escolas e jardins de infância.

Assim como o menino acelerou o ritmo de maturação da borboleta, também, muitos pais, devido à ansiedade de verem seu filho crescer, por vaidade ou mesmo ignorância, desejando tê-lo como mais inteligente que o normal, apressam o processo de desenvolvimento de suas crianças. Sem se darem conta de que não estão favorecendo ou facilitando seu crescimento, estão forçando para que o amadurecimento de seu filho se processe de forma mais rápida, incompleta, queimando etapas da vida, das quais a criança se ressentirá mais tarde.

Cada indivíduo tem seu próprio ritmo de desenvolvimento e cada fase da vida tem suas características próprias, que deverão ser vivenciadas e exploradas de modo global por cada pessoa, sempre respeitando seu ritmo de absorção e elaboração de novos conhecimentos.

Meses que Fazem Diferença

Deve-se lembrar de que, nos primeiros anos de vida, os desenvolvimentos neurológicos, intelectuais, emocionais e psicomotores ocorrem de forma muito rápida e que, em nenhuma etapa posterior da vida, observa-se tanta evolução em tão pouco tempo. Portanto, é fácil constatar que alguns meses a mais em crianças pequenas, determinam um avanço significativo no seu desenvolvimento e constata-se que estas supostas mínimas diferenças de idade, não são consideradas com a devida seriedade. E, então, ocorrem os “nascimentos prematuros” em muitas situações escolares.

A maioria dos pais e avós considera seus filhos mais espertos e inteligentes que o normal. É comum ouvir dos familiares das crianças comentários, “saídas” interessantes, curiosas e divertidas que os pequenos formulam. E, como a família tem um universo muito limitado de comparações entre crianças, julgam que os seus estão acima da média.

Com o advento da entrada na Educação Infantil, estas ilusões são, ocasionalmente, frustradas.

As escolas preparam seus programas curriculares para cada ano, considerando a idade cronológica dos alunos que os frequentarão e as características próprias de cada uma das etapas evolutivas que as  acompanham.

Ora, como se viu anteriormente, a diferença de meses nesta fase de vida, é significativa. Portanto, uma criança que aniversaria em janeiro terá, em relação a um colega que nasceu em dezembro, praticamente um ano de maior maturação. Porém, ambas são sujeitas ao mesmo programa curricular e às exigências da série que frequentam.

As comparações se tornam inevitáveis, não tanto por parte das professoras que conhecem e têm experiência com estes casos e conseguem discriminar entre as realizações de cada aluno conforme sua idade, mas, principalmente, entre as próprias crianças que comparam seu desenho, a sua capacidade psicomotora de correr, pular, disputar com a dos colegas. Para o que se sai melhor (não porque necessariamente seja mais inteligente), mas que tem mais idade e por isto maior maturidade, estas conquistas reforçam sua autoestima que, por sua vez, lhe gera maior segurança pessoal. Em contrapartida, para os mais novos (que não têm a compreensão da diferença da idade e do que pode advir dela), há a possibilidade de sentirem-se inferiorizados, baixando a autoestima, tornando-se inseguros e ouvindo críticas de seus colegas, em relação a seus trabalhos. Procuram dar o máximo de si para alcançarem os outros e, às vezes, o esforço é tão demasiado que se estressam, ocorrendo sintomas psicossomáticos como dores de cabeça, dor de estômago ou negativas de ir à escola.

Os pais que estão fora do âmbito escolar, não percebem estas diferenças, pois só recebem, em casa, os trabalhos realizados pelo filho. Alguns notam que outro colega tem mais desenvoltura, mas dificilmente associam com a diferença de meses entre seu filho e este.

É comum os pais alegarem que sabem e acreditam na potencialidade da criança, que “seu coração de mãe” lhes diz que ela irá desabrochar (como a borboleta, do texto inicial), que o “estalo” virá mais tarde.

As crianças mais novas apresentam naturalmente, mais vontade de brincar do que aprender a ler e escrever. Demonstram capacidade de atenção compatível à sua idade cronológica, mas não a necessária para ingressarem em uma 1ª série. São crianças em que a agitação motora, comum à sua faixa etária, está muito presente e que continuará na sala de aula, no próximo ano, sendo que elas serão várias vezes alertadas para ficarem sentadas em seus lugares, o que lhes exige um esforço muito grande.

A infância, assim, se torna mais curta. E a criança que necessita brincar ainda muito, vê-se obrigada a ficar sentada, assistindo a uma aula pela qual não está interessada, por não estar no ponto de poder realmente se interessar.

Para alguns adultos, repetir um ano significa perder um ano na vida, quando, na realidade, os benefícios são geralmente maiores que os prejuízos e, tanto as crianças como as famílias, sofrem menos.


tdah
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