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Teoria Integrativa

Frequentemente alunos me questionam: mas afinal, qual é a linha teórica em Psicologia que adotas, que segues?

Ora, eu sou psicóloga, e portanto eu sigo todas as teorias as quais penso que o caso comporta, ou que se beneficiará com sua aplicabilidade e com seu entendimento. Não sou escrava de uma teoria e nem escravizo meu cliente/paciente e seu contexto enquadrando-os e muitas vezes deformando-os para que se encaixem na linha teórica.

Não entendo porque não lançar mão, ou melhor lançar luz de entendimentos diferentes mas complementares sobre uma situação que sendo iluminada por várias fontes e por diversos ângulos, será melhor percebida e terá maior clareza para uma intervenção terapêutica ou preventiva. Por outro lado, apenas com uma luz, só uma parte surge e o resto será de sombras, as quais podem escurecer aspectos importantes que não permitirão um desenvolvimento pleno ou até poderão ser a base do iceberg.

Vamos a um exemplo corriqueiro: aluno com um histórico de dificuldade em uma determinada matéria, que por isso já não se dedica muito em aula, perturba seus colegas com conversas e reclama do professor quando este lhe chama a atenção.

Sob as minhas várias óticas teóricas e sem me aprofundar em mais detalhes do caso, posso entender que este aluno (sob uma visão cognitivo comportamental) mantém uma crença de incompetência de compreensão desta disciplina, pois sua história escolar assim o comprova. Complementarmente, entendo que quando o professor lhe chama a atenção, ele se sente ameaçado em sua autoestima e segundo a teoria da motivação de Murray (advinda de Maslow) gera necessidade de defesa de humilhação e preservação de autoestima e então reclama do docente. Mas também compreendo, psicanaliticamente, que neste confronto existe uma transferência inconsciente de sua relação com a autoridade parental e que o professor precisa entender que o comportamento reivindicatório do aluno não se dirige totalmente à sua pessoa, para poder manejar melhor a situação e poder auxiliar seu aluno em sua dificuldade. Para que o docente tenha este conhecimento psicanalítico e das demais teorias, recorro à teoria sistêmica que aborda a dificuldade em sua complexidade.

A psicoeducação do corpo docente quanto às teorias de desenvolvimento psicológico promove uma formação mais global da prática pedagógica, instrumentalizando os professores de conhecimentos e manejos mais adequados em sala de aula. Além disso, a teoria sistêmica possibilita atender a dificuldade como consequência de uma conjugação de fatores, evitando a culpabilização do aluno. Assim, inclui-se nesta análise um olhar institucional, pois se a dificuldade escolar já é histórica para este aluno, deverá ser contemplada uma forma didática diferente para solucioná-la e verificar porque antes não foi observada e trabalhada.

É necessário também envolver sua família na construção de uma estratégia mútua para auxiliá-lo, assim como buscar e fornecer subsídios para a compreensão do caso. Por outro lado, a Psicologia Positiva ajuda a ampliar minha visão para além da dificuldade, conscientizando e valorizando os aspectos saudáveis que o aluno apresenta e que serão importantes para a superação dos problemas e afirmação da autoestima.

Neste sentido, o professor poderá contribuir para a desconstrução da crença de incompetência em sua disciplina, aplicando exercícios de menor dificuldade, intercalando-os com alguns mais desafiadores para que, segundo o entendimento cognitivo-comportamental, o aluno reforce sua capacidade em aprender.

Para a teoria construtivista de Piaget, é preciso também que o professor facilite o desenvolvimento cognitivo, construindo o conhecimento a partir do ponto que o aluno já domina.

Não posso esquecer que a aula é ministrada para uma turma de alunos e que esta pode ajudar ou complicar o processo de ensino/aprendizagem. Este grupo também deve ser incluído, favorecendo com que este aluno seja auxiliado por outros estudantes que dominam melhor aquele conteúdo, que segundo Vygotzky podem trabalhar com o colega em relação a sua Zona de Desenvolvimento Proximal ou de forma vicária, segundo Bandura, mostrando que se eles conseguem aprender, este aluno também conseguirá.

Ainda complementando este processo, o professor deve vincular sua matéria à vida e aos interesses (necessidades de Murray/Maslow) dos alunos e tornar o assunto significativo a eles, motivando-os à aprendizagem. No entanto, um professor desmotivado não consegue motivar. E novamente a teoria sistêmica mostra a necessidade de também atender aos docentes enquanto pessoas. O psicólogo escolar é o profissional da escuta também na escola e seja sob entendimento psicanalítico, humanista, sistêmico ou qualquer outra linha teórica que mais domine, ou todas juntas, deve acolher as demandas dos profissionais em Educação. É necessário criar espaços de escuta individuais, de aconselhamento, e grupais como grupos operativos (segundo Pichon RIvier e Bleger). Estes espaços têm como objetivo favorecer a resiliência (Psicologia Positiva) e os vínculos entre os colegas, para que construam sua própria identidade institucional, forte mas permeável, transformando-se em fenômenos transicionais como Winnicott tão bem descreveu.

Quis com um simples e cotidiano caso mostrar que necessitamos da contribuição das várias luzes teóricas e que elas não necessariamente se excluem, ao contrário, cada uma possibilitando a iluminação mais clara das diversas facetas que cada pessoa ou grupo apresenta e que os torna únicos e por isso fascinantes.

Enquadrar pessoas dentro dos limites de cada teoria é apequenar a Psicologia, deturpando seu objetivo maior que é favorecer o desenvolvimento da pessoa em sua plenitude emocional, relacional, comportamental e cognitiva.

E não menos importante é permitir que o psicólogo transite por diversos enfoques, aproveitando de todas as contribuições e tornando-se um profissional mais completo e livre.

Vivien Rose Bock – Psicóloga Clínica e Escolar, mestre em Psicologia Social e da Personalidade, Formação em Psicoterapia de Família e Casal, professora da PUCRS, autora do livro “Professor e Psicologia Aplicada na Escola” e “Motivação para Aprender, Motivação para Ensinar”, coordenadora do CAPE

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